Capítulo 01

            

                 - Senhorita? Seu pai solicita sua presença no salão em trinta e cinco minutos.
               Abri os olhos preguiçosamente. Uau, já era de dia! Cobri minha cabeça com o cobertor de linho com o qual eu dormia, tentando ignorar as batidas na porta do quarto.
                - Senhorita? – Edward chamou novamente. Três batidas na porta – Senhorita Johnson? Está acordada?
           Levantei bem devagar, piscando muito. A luz que vinha da janela estava fazendo meus olhos doerem.
                - Sim, eu estou, Edward – respondi
                - Bom se apressar, senhorita, ou vai se atrasar. Precisa de alguma coisa?
                - Não, obrigada – Sabia que era a obrigação dele fazer as coisas por mim, mas isso era realmente irritante ás vezes!
                Agora completamente acordada, olhei em volta de meu quarto, adiando o momento em que teria finalmente que levantar.
                Meu quarto tinha altas paredes douradas. Uma das paredes estava ocupada com meu enorme guarda-roupas e a outra com minha estante de livros e uma confortável poltrona.
                Isso pode soar até maluco, mas sinto que não pertenço a esta vida. Tenho tudo o que qualquer pessoa pode querer. Fama, um namorado popular, dinheiro. Mas não me encaixo nisso. Por isso os livros são meu refúgio. Busco neles um mundo em que talvez eu me encaixaria.
                Bem, ainda não achei.
                Uma tontura falimiliar passou por mim. Ah, agora não! Não adiantou. De repente eu estava sobrevoando uma bela cordilheira coberta com campinas verdes e eu já estava de volta, completamente atordoada, como todas as vezes em que me vem esses estranhos flashbacks. Eu tenho essas visões desde sempre. Não sei o que significam ou que lugar era aquele, mas sei que é importante para mim.
                Me levantei da minha cama para me preparar. Hoje seria um dia cheio. Como todo dia, minha roupa estava em cima de um baú aos pés de minha cama. Hoje, o que estava lá era um vestido bordado vermelho que caia até acima de meus joelhos. Era adequado aos meu quase dezessete anos. Apenas mais uma semana para eu fazer dezessete. Uma semana.
                Despi meu confortável pijama para pôr o belo vestido. Como todas as minhas roupas, o vestido se ajustou perfeitamente a meu corpo.
                Ouvi o barulho da porta da frente. Paul deve ter chegado! Corri para a frente do espelho e ajeitei meu cabelo castanho enrolado em um coque frouxamente preso, com mexas caindo em torno de meu rosto. Coloquei a presilha de mamãe segurando meu cabelo.
                A presilha era a única coisa que havia sobrado dela. Era uma flor cuidadosamente entrelaçada em uma armação fina de metal dourado. Nunca soube para onde foi mamãe. Papai só me fala que desde meu primeiro aniversário nunca mais viu ela. Não soube se ela morreu ou simplesmente fugiu. Dela só me resta a presilha e... bem, uma foto que papai acha que foi queimada há oito anos. Só que eu a escondi.
                Saí apressada de meu quarto. Não passei maquiagem. Tenho certeza que vieram pelo menos cinco maquiadores para me deixar “apresentável” para o público.
                Ah meu pai é um milionário, braço direito do presidente. Moro em uma casa senhorial no coração da cidade de Manhattan. A casa ocupa um quarteirão inteiro. É bem antiga, mas não velha. Papai não admitiria uma casa caindo aos pedaços. Grande, com uma bela fachada branca e janelas enquadradas. Minha própria Casa Branca.
                Meu pai vai presenciar a formatura de uns calouros que a Polícia Militar está recrutando e um deles é o meu superpopular namorado, Paul Lewis. O próprio presidente vai fazer o pronunciamento.
                 Segui no lustroso corredor que dava acesso aos outros quartos e corri para as escadas. No último lance de escadas pude ver Paul vestido em um elegante uniforme (aparentemente, muito desconfortável), e papai em um terno justo (também parecendo muito desconfortável) conversando com o Coronel Bane (ereto demais para estar confortável) e o diretor da equipe de filmagens, Luke (de longe, o mais á vontade dos quatro).
          Corri e pulei nas costas de Paul. Ele riu e se virou para me segurar forte em um abraço apertado, ainda rindo.
          - Comporte-se, Kate! – virei-me para poder ver a expressão de meu pai, que estava completamente exasperada.
          Luke estava rindo silenciosamente atrás de meu pai e o Coronel Bane procurava olhar para qualquer lugar que não fosse a cena a sua frente. Ri e beijei suavemente a boca de Paul e me soltei de seus braços, deixando somente um deles em volta de minha cintura.
          Fiquei em pé ao seu lado, apoiando levemente minha cabeça nele e passei um braço por suas costas. Papai ainda me olhava feio, mas eu o estava ignorando completamente.
          - É... Hum... Então... Coronel? – Disse Luke com um leve vestígio de seu sorriso, porém incomodado com o silêncio que se seguiu – Coronel Bane, como vai posicionar os garotos, para que eu possa organizar a equipe da melhor maneira possível?
          - Oh, sim, Luke, então... – respondeu o Coronel, começando uma longa (e monótona) 
conversa sobre o melhor posicionamento de câmeras.
          - Vamos dar uma volta? – Sussurrou Paul em meu ouvido, me guiando para o jardim.
          Paul era muito popular. Com certeza um pouco metido, mas Paul sabia ser carinhoso. Ele me dava atenção e mostrava que me amava.
          Eu o amava ainda mais por isso.
          Saímos pelo porta da frente da casa e entramos no enorme jardim, passando pelos dois pinheiros que marcavam a entrada, atravessamos a pequena ponte para poder chegar ao meu lugar favorito de toa a grande casa senhorial; o meu pequeno banquinho branco.
         O banquinho tinha arabescos de metal entrelaçados, formando seu belo encosto e os apoios laterais. Nos sentamos nele e deitei minha cabeça em Paul.
          Deixei minha mente vagar. Pensei no sorriso de mamãe na foto. No terno olhar que papai dava a ela. Um olhar que eu encontrava no rosto de Paul quando eu me atrapalhava na frente dele e corava.
           Mais uma vez me senti deslocada. Ao lembrar dessas coisa parecia que eu estava assistindo a um filme, não parecia a minha vida.
           - Paul? – Perguntei, hesitante, tomando coragem
           Paul deu um pequeno pulo. Parecia que também estava perdido em seus próprios pensamentos.
           - O que foi, minha princesa? Está tudo bem? Você está bem? – ele perguntou, arregalando os olhos.
           Ri da ansiedade dele. Como eu o amava.
           - Eu te amo, Paul – disse, chegando mais perto ainda, para ele passar seus braços em torno de mim.
           - Eu também, Kate. Eu também.










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